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terça-feira, abril 17, 2007

Hedonismo pós-cristão de "Roma"

Diz Contardo Calligaris na Folha dessa quinta, comentando a série de TV "Roma": "somos demasiado preocupados com nossa sobrevivência para sermos hedonistas."É verdade: seríamos hedonistas se não estivéssemos pensando em ganhar pra viver, em pagar educação, saúde e cultura, privadas, agora.

Nascí quando Madonna era a Nova Nossa Senhora.

Saturado, portanto. Prazer para minha geração é também servidão a produtos"mentais" de uma empresa...

O problema não é o prazer, claro (de que serviria a vida sem ele?) mas esquecer que participe você ou não existe uma estrutura no mundo, e alguém está decidindo algo sobre seu futuro. Sobrevivência significa: alguém não está cumprindo o que devia cumprir-seja o governo, dominado por grupos minoritários, seja empresários, com isenções de 900 milhões como a Gerdau, seja a ONU, no Iraque, etc.

"Somos higienistas, isso, sim. Mas não hedonistas." As nossas empresas querem de nós uma moral bem rígida, controle e produtividade. Roupas adequadas, aparência, para entrar no "mercado". Não se trata de um marxismo chato, onde primeiro vem a revolução, depois a vida, nem de catolicismo medieval, onde o sexo destrói o mundo, mas de lutar pela capacidade de entender a raíz do hedonismo sem paz.

O bom hedonismo, para mim, surge do prazer do convívio- com outros, com paz, com sexo.

O mau hedonismo é uma repetição compulsiva que esconde um medo e uma paralização de compreensão, ação, criação. "No logo", urgente!

Não se trata de uma moral cristã asfixiando a vida, mas de uma ética prática e diária de preservação e cuidado, quando nosso poder se tornou grande demais e nosso anonimato mútuo permite atropelar sem ver (quase me pegam esses dias!), queimar índio e atirar em 33.
(Um desses atiradores de 15 anos passou a vida toda ouvindo de seu pai "você é um perdedor, porque tira notas baixas- era depressivo- e quando matou sua mãe disse- "para você não ter vergonha de mim").

Podemos criticar a religião pela castração, mas uma educação para a sociabilidade fez e faz falta. Se não somos nada para ninguém- no ninguém da massa metropolitana- queremos nos sobressair pela competição, pelo exibicionismo, quremos roubar a atenção pela excelência compulsiva. Se ninguém me pára, eu posso tudo. Viva o hedonismo comunitário!

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