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domingo, outubro 28, 2012

Vivo

Não mexe com esse índio.
Esse índio é meu -
(espelho).
Sou eu.
Esse índio não morreu.
Quem come tudo não comeu.
(Recebo o dia em canção).
E eu sou dele.
Um silêncio sem barulho.
Enquanto houver arara onça xamã lá fora também aqui
Eu preciso de noite e de línguas ocultas.
Não quero esquecer mais do que já esqueci.
Eu falava com a lua, eu ouvia o raio. Era vento.
Quero que ele fale e não seja nossa tela em branco.
E esse sucesso todo do nosso modo de ser
eu só quero para saber menos.
Que já tem pó demais.
Você tem toda a razão mas faz pouco tempo.
Falta outro caminho, é preciso.
Prever a caça ouvindo a terra. Ouvir contar o rei dos peixes. Ouvir o rádio, mas sob outra luz.
A mariposa azul que cruza as dimensões, não somos sozinhos.


E se chora no cubo, por ser um único.
Por querer ser único num mundo de liso.
Perder as emoções e comprar emoções.
Tirar do outro seu poder e fruto.
Quem vai criar o mundo sem Lorde Barba Branca?
Quem vai ter Escrituras no chão vermelho?
Quem vai pintar meu corpo quando eu me for?
Tudo era tão importante e não tinha importância nenhuma.
Eu preciso de raiz. Desquadrada.
Ser mais leve que o ar condicionado.
Chegar a um céu sem Matemática.
Habitar o meu corpo, a Mãe-Pai Terra e renascer na folha que se eleva.
Onde as coisas se comuniquem e nem são coisas.
Onde bicho é gente.
Onde eu sou gente, e diferente.

Não mexe com meu índio porque tenho que aprender.
Agora, aqui, vivo em quatro cantos.
Não mexe com eu índio. Nem tiro, nem biopirataria.
A civilização em colapso quer acumular
Eu preciso que me digam que o progresso é criar
Se a economia é ficção, me mostrem chão
Rio, floresta, cerrado que recebem o dia
É a porta ainda aberta.


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O trabalho Vivo de Afonso Lima foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.


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