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terça-feira, abril 28, 2015

A confissão


O Minotauro queria apenas ficar no jardinzinho no centro do labirinto com seus livros. Os camponeses de Creta que dançavam e bebiam nas festas de Minos não sabiam o ditador cruel que ele era. Ele fazia parte das coisas que precisavam ficar escondidas. Seu destino o obrigava a fritar coraçõezinhos de jovens atenienses, ninguém era mais vigiado que ele. Talvez ele fosse o centro da roda terrível, os miseráveis que comiam pouco procuravam a culpa do seu castigo. O Minotauro tocava sua lira triste. Cansara-se de confessar. Teve uma ideia: teceu com os cabelos dos mortos longa linha e fez com que a criada da rainha - que, piedosa, há anos nutria seu filho com vinho e novidades literárias - levasse o carretel até o quarto da princesa Ariadne. O Minotauro passeou pelo labirinto com nostalgia. Logo sua cabeça estaria numa parede do palácio de Atenas. Seria afinal apenas para si mesmo. 

Afonso Lima

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