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quinta-feira, maio 05, 2016

O dia

O horizonte é cinzento
caminho por folhas secas
o que era arte está abandonado
mansão deserta não tenho tempo
para a solidariedade
somos aqueles que são produzidos
um pássaro negro grita na árvore
quem são esses homens donos do meu tempo
quem são esses sem antes
abro a memória da memória em busca de perguntas
quem são esses homens sem esperança
tão precisos, tão certeiros
seres das trevas
quem são esses sem dúvida ou piedade
que conduzem investigações
o comércio na Câmara dos Deputados
todo nosso movimento e cores
anulados no documento
no desprezo
a guerra me tira da cama
o processo de eliminar as provas
de outra ordem
o tempo dos invisíveis, nosso poder o arcaico
que perturba, nossa lei
são todas as coisas perdidas de si mesmas
que não tiveram tempo de crescer os momentos
de aflição soterrada nós temos os antigos
clássicos porque estranhos reconciliação de Oriente e Ocidente
no fundo do azul achamos
a atenção delicada, a lentidão, a insatisfação com
um mundo de coisas
o barulho das máquinas rompeu a noite
ao sonho eu imponho minha guerra de metáforas
o criador está na memória
comer o passado no canto do hoje
quero o tempo que se desdobra
a gratidão pelo que revela
a loucura do barco
mar noturno
minha memória é um abraço ao mundo

Afonso Lima

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