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quinta-feira, julho 07, 2016

A casa da fazenda

Dizem que ele foi amarrado na cama, um pano na boca, roubaram tudo, ainda escorria um fio de sangue da cabeça.
A casa em si era uma coisa muito velha, acho que ainda de barro. Mas era a casa da família, foram os donos daquilo tudo. Os maiores políticos vinham do centro para falar com o coronel, ele decidia a eleição do bairro.
Sua mãe ainda fora dona de escravos e, depois, tinha na fazenda libertos, coitados que viviam numa indigência constante sem salário ou descanso. Até apanhar de chicote apanhavam, a senhora era desconfiada e nem sempre justa.
Ficou um retrato severo, os santos sujos, metal e madeira disso e daquilo com pó de antigamentes. O jardim feio também era um mausoléu de tempos.
Mas ele quase morreu ali. Sufocado de dar dó. É que tinham mudado o chão, o ruído, o rio do dia, respeito antigo de nome já não era, gente nova, campo maquinado, chegou o Zinho, no poste até uma cabeça de um que não se comportou, se disse.
Muitos ainda lembravam, a casinha diminuía, o olho que tudo via já com miopia. O velho era menos que nada, o mundo o engolira.
Mas ainda parece que, salvo de um menino, achou dois funcionários e cavalou em reta até achar os dois.
E foi cabeça no poste e rio cheio.

Afonso Lima

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