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domingo, fevereiro 26, 2017

traduzindo Emily Brontë - dois poemas

Minha alma não é covarde  (1846)

The following are the last lines my sister Emily ever wrote." (Charlotte).


Nada covarde a alma minha

Sem tremer nesse mundo de tempestades pleno

Vejo o Paraíso, que brilha!

E a fé brilha junto, e eu nada temo!


Deus, que é quem sou!

Todo poderoso - Divindade sempre presente!

Vida - que em mim pousou

Como eu - Vida Imortal - tenho poder em Ti!


Vãos são os mil credos

Que movem os corações dos homens: Vaidade

Ervas daninhas e enganos cegos

Ou a espuma em meio à Imensidade 


Em despertar a dúvida em Ti

Tão rápido amparados na Tua Infinidade! 

Ancorados com segurança ali

A pedra inamovível da Imortalidade!


Com amor que a tudo vem envolver

Teu espírito a tudo ampara e anima

Tudo atinge e faz crescer

Muda, sustenta, dissolve, cria e reanima


Quando terra e homem vierem a desaparecer

E sóis e universos deixarem de ser 

Quando sozinho estiver o Ser 

Toda a existência em Ti vai existir 


Não há espaço para Medo

Nem a mínima parte do seu poder pode ser apagada

Tua - TUA arte - Ser e Alento!

Tua Arte - não pode voltar ao nada!


versão: Afonso Jr. Lima


Lembrança (1845)


O frio sobre a terra - e a neve se acumula sobre ti
Longe, longe estou - frio no túmulo triste 
Meu único amor, amor por ti, será que esqueci?
Separada pelo Tempo, que separa tudo que existe 

Agora, sozinha, não mais meu pensamento vaga
Sobre as montanhas, nas praias invernais 
Abrindo as asas sobre o pântano e o que a terra traga
Teu coração nobre para sempre, mais e mais! 

O frio na terra, quinze dezembros sem vida 
Desses morros mortos tornados em verdor
Fiel é o espírito que lembra ainda
Depois desses anos de mudança e dor 

Doce Amor da juventude, perdoe se eu me esquecer 
Enquanto a maré do mundo me arrasta como vendaval
Desejos duros e esperanças do dever 
Esperanças que obscurecem, mas não podem te fazer mal!

No meu céu outra luz nunca foi acendida 
Não houve uma segunda manhã na minha vida, amigo
Toda a alegria da minha vida veio da tua vida querida
E toda a alegria da minha vida está nessa cova contigo

Mas quando os dourados dias de sonhos tinham virado nada 
E até o Desespero, saciado, não mais destruía
Então eu aprendi como a existência poderia ser apreciada,
Fortalecida e alimentada sem o auxílio da alegria

Então sequei as lágrimas da inútil paixão
Proibi minha alma jovem de buscar a tua 
Neguei o desejo ardente de te acompanhar 
De deitar nesse, mais que meu, esse caixão

Não ouso ainda ouvir o que o coração sente
Me entregar à dor torturante da Memória
Mesmo bebendo profundamente dessa divina angústia,
Como buscar o mundo vazio novamente?

versão: Afonso Jr. Lima 

-

No Coward Soul Is Mine

No coward soul is mine,
No trembler in the world's storm-troubled sphere:
I see Heaven's glories shine,
And faith shines equal, arming me from fear.

O God within my breast,
Almighty, ever-present Deity!
Life--that in me has rest,
As I--undying Life--have power in thee!

Vain are the thousand creeds
That move men's hearts: unutterably vain;
Worthless as withered weeds,
Or idlest froth amid the boundless main,

To waken doubt in one
Holding so fast by thine infinity;
So surely anchored on
The stedfast rock of immortality.

With wide-embracing love
Thy spirit animates eternal years,
Pervades and broods above,
Changes, sustains, dissolves, creates, and rears.


Though earth and man were gone,
And suns and universes ceased to be,
And Thou were left alone,
Every existence would exist in Thee.


There is not room for Death,
Nor atom that his might could render void:
Thou--THOU art Being and Breath,
And what THOU art may never be destroyed

-

Remembrance


Cold in the earth—and the deep snow piled above thee,

Far, far removed, cold in the dreary grave!

Have I forgot, my only Love, to love thee,

Severed at last by Time's all-severing wave?



Now, when alone, do my thoughts no longer hover

Over the mountains, on that northern shore,

Resting their wings where heath and fern-leaves cover

Thy noble heart forever, ever more?



Cold in the earth—and fifteen wild Decembers,

From those brown hills, have melted into spring:

Faithful, indeed, is the spirit that remembers

After such years of change and suffering!



Sweet Love of youth, forgive, if I forget thee,

While the world's tide is bearing me along;

Other desires and other hopes beset me,

Hopes which obscure, but cannot do thee wrong!



No later light has lightened up my heaven,

No second morn has ever shone for me;

All my life's bliss from thy dear life was given,

All my life's bliss is in the grave with thee.



But, when the days of golden dreams had perished,

And even Despair was powerless to destroy,

Then did I learn how existence could be cherished,

Strengthened, and fed without the aid of joy.



Then did I check the tears of useless passion—

Weaned my young soul from yearning after thine;

Sternly denied its burning wish to hasten

Down to that tomb already more than mine.



And, even yet, I dare not let it languish,

Dare not indulge in memory's rapturous pain;

Once drinking deep of that divinest anguish,

How could I seek the empty world again?




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