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quinta-feira, março 16, 2017

O império

A piscina azul parecia continuar no mar. O drink era amarelo, com um guarda-sol vermelho. 
- Mas nosso apoio aos bombardeios pode impedir que a comida chegue - disse o general inglês. Podem morrer milhares. 
- O que você quer? Um aliado inimigo na região? - respondeu o político democrata, herdeiro das Indústrias Collyn. 
- Eles não produzem seu alimento... Precisamos de reforma social, ou seremos sempre os vilões...
Uma mulher passou observando o general. Sua camisa de palmeiras o deixava com cara de americano?
O democrata respirou fundo. Culpa imperialista. 
- A competição leva naturalmente à concentração. Uma igualdade artificial não deve ser buscada para reprimir o direito natural de expansão, nem que isso signifique regime forte - ele disse, pedindo mais um dry martini. 
- O senhor está me dizendo que acredita numa missão civilizadora? - disse o general servindo-se de um taco mexicano. 
- Não, caro general. Mas o comunismo destruiu muitos proprietários. Qualquer anticomunista é um líder da liberdade. E o investimento precisa de governos convenientes. 
Ao fundo, dois lobistas começaram uma partida de xadrez com um ministro. Mas o general, tendo deixado sua mente vagar, retomou: 
- Apoiar o fascista espanhol não ajudou. A Comissão Din também pediu reforma agrária, porque os camponeses filipinos se revoltaram com os latifundiários. Baixos salários são bons para investir, mas como sair do feudalismo sem mudança de regime? 
O democrata lembrou da China, triste erro de avaliação, deixar os chamados nacionalistas, ainda que corruptos, perderem. Mas disse: 
- É aí que entra o inimigo. Queremos ficar isolados da corrupção do mundo, mas não seria absurdo o as riquezas da terra  serem desperdiçadas com povos primitivos? Então, o inimigo, qualquer um, ameaça nosso "way of life" - sim, aquilo era culpa imperialista; mas seus pais industriais o haviam ensinado a liderar os menos dotados, a conduzir os inferiores. Uma nuvem cinzenta surgiu entre nuvens brancas. Prosseguiu:
- Sabemos que sem a Grande Guerra os lucros com armas não haveriam crescido - e devem crescer.
- Não sei... Eu vi jogarem bombas contra os camponeses, uma guerra científica - Sabia que nada poderia ser mais conveniente do que pessoas economicamente subdesenvolvidas, divididas, mão-de-obra barata, dentro e fora - mulheres, negros, estrangeiros. Brincou com o guarda-sol vermelho.
- Eu... meu pai viu a repressão à oposição na Índia, ele leu textos sagrados indianos. O sangue de Jallianwala Bagh lhe dava vergonha. É preciso manter a elegância em tudo. 
O martini chegou. 
- O desafio é gerar liberdade e desigualdade com o mínimo de sangue e fome. É o fardo do homem branco. Como disse Roosevelt, precisamos congregar forças para lidar com as raças mais atrasadas do mundo.
De repente, a jovem saia da água. As nuvens cinzentas agora eram maioria. O drink do general parecia ter desbotado. 

Afonso Junior Ferreira de Lima




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