Páginas

Ajude a manter esse blog

quinta-feira, agosto 14, 2025

Veneno

Aquelas casas antigas do centro era onde o calor não fazia curva, o samba acontecia e a poesia rolava. 

O sambista tinha finalmente comprado um apartamento. Pesquisa de doutorado, selecionando palavras pra viver, a música. 

No andar de baixo, local fechado há décadas, a lenda dizia que houve um comércio. Briga de família, alguém rouba alguém.  

Um dia, ele percebeu uma estranha hera (a folha como carvão) subindo pelas paredes do térreo. Pensou que devia chamar alguém, e os dias passaram. 

Duas semanas depois, um braço daquela planta foi vista no balcão. Havia um show próximo, seguia.

Um dia, acorda sentindo um caminhar no pescoço. Dorme outra vez.

Ao fazer a barba, sente a ardência.

Precisa ir no postinho. Uma hora. Já na porta pra sair, percebe que a gata pisa em alguma coisa. 

Ao ver a aranha grande, muda de rota, acaba internado.

Dois dias depois, resolve observar o braço da hera escura. Arromba a porta do térreo ao pé da escada. 

A planta vem de um canto úmido. Cava.

Os ossos eram antigos.

A arqueóloga disse que era um cemitério de gente que morreu no sequestro colonial.

Versos sobre a terra. 

Na roda de samba, pede um minuto de silêncio por aquelas almas. 

Afonso Lima




Nenhum comentário: