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segunda-feira, julho 16, 2012

Pesadelo

Aquela Igreja escura e (seria minha imaginação?) úmida me dava arrepios, mas minha irmã teve um surto de fé e quis batizar meu sobrinho seguindo a tradição da família. Por algum motivo eu estava sentada sozinha no banco, olhando aquela imagem de dor que tanto tinha significado em minha infância. Parecia tudo frio, e as velas iluminando rostos distantes me davam arrepios. Incrível como certas crenças ficam fincadas na alma da gente: os protestantes eram rebeldes, Deus é homem, Cristo realmente é o Filho Único e a Bíblia errou ao afirmar “irmãos de Jesus, existem pecadores por default. Eu era simplesmente à favor da liberdade. Estava distante quando ouvi um choro abafado em um bando atrás de mim. Pensei em ignorar, mas a moça parecia desesperada e acabei levantando e oferecendo um lenço. Obrigada, ela disse. Ficamos sentadas lado a lado em silêncio e eu ia levantar-me quando ela falou: - Você acha que existe mesmo pecado? - era uma pergunta retórica, graças a Deus – Eu trabalho numa clínica de abortos. Nós trituramos bebês de três meses em liquidificadores e jogamos no vaso sanitário. Damos fetos de cinco e seis meses para os cães do canil - Eu mesma comecei a tremer involuntariamente. Tentei desviar o olhar – Estou entrando em depressão. Ouvi um barulho vindo da sacristia. Levantei-me um pouco contrangida e fui em direção à minha irmã. Ela saía animada com o padre. Voltei-me. A moça não estava mais no banco. Olhei rapidamente pela Igreja, havia desaparecido. Aquela noite, tive pesadelos.

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Pesadelo de Afonso Jr. Ferreira de Lima é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
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