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quarta-feira, dezembro 02, 2015

Queres

Ela abria a mandíbula e preparava as garras para engolir o duplo que ajoelhara-se ao lado do corpo.
- Eu apelo para tua mãe, Noite.
A deusa surge em meio ao caos e a devastação.
- Quem me chamou?
- Eu sou um pobre pescador. Aqui jaz meu corpo, engolido pela terra que desceu. A cidade desapareceu. O rio encheu-se de ferro. Meu corpo não pode ser enterrado. Por isso, tua filha Queres vai devorar-me e jamais poderei descansar.
- Essa é minha função, ninguém achará o cadáver, não podes ficar eternamente habitando ao seu lado - ela diz.
Nix observa o cenário triste. Era como uma pomba esmagada por uma pedra. Árvores escuras, animais mortos, o cheiro no ar.
Ela arrasta Queres e as duas desaparecem numa nuvem cinzenta.

Afonso Lima




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