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quarta-feira, janeiro 31, 2007



Há muito tempo se comenta que a Folha é anti-lulista, que as manchetes adoram ridicularizar o PT, já ouvi falar de alguns colunistas com uma "arrogância de intelectual paulista" que parece saber tudo e odeia pontos de vista "vindos debaixo". (Claro, a Folha é complexa, e temos de amá-la, é o cérebro do país...)

Mas o que tem me irritado é o fato de toda foto do Lula ter um ar cômico, mostrando-o doido, triste ou ridículo. Lula molusco. A última edição pinga mais ainda no copo cheio...

Essa é uma forma antiga de demonstrar postura política - O New York Times achou até uma foto do Lula sério e dark- mas fica muitochato para o leitor, que se sente desrespeitado. Aqui dois exemplos. Tem algum motivo para mostrar o mais alto funcionário do país assoando o nariz? Seria tão bom ter uma foto apenas de um presidente...
Fidel na boca do outro

É, esse é um caso tão caricato como um inimigo de James Bond. Para ganhar só mesmo a capa da Época com o título "Caloteiros da Fé", onde manchete substituiu documentação...Atualmente sobre a batuta de Carlos Henrique Schroder, diretor da Central Globo de Jornalismo, e tendo Erick Brêtas como editor chefe, há anos que o último Jornal da noite da Globo nos presenteia, com o nome de "informação", com sua impermeável editorialização não assumida, sua visão conservadora, fechada em seu mundo teórico "liberal" (?) e surda à realidade mais ampla.

Cada edição começa com o inigualável "editorial", sendo os casos mais notórios aquele em que ironizaram a oferta da Argentina ao FMI- e tiveram que ficar com o sorriso ultra-amarelo quando o órgão aceitou no dia seguinte- e a narrativa melodramática do caso Aracruz, na manifestação das trabalhadoras rurais, que não apresentava absolutamente nenhuma tentativa de explicação, mesmo sendo o caso do eucalipto um dos maiores desastres ecológicos do estado.

Tem mais... A mais que hilária foi a crônica do colunista Carlos Alberto Sardenberg – o gênio preso na lâmpada- sobre Thomas Friedman, "pai da globalização": "Já foi perdoado?", "Claro! Já foi perdoado..." Ah, e tem o pornô-mal-informado-tão-esquerda-que-é direita- do- Jabor... bizarro! Aliás o Jornal conseguiu demitir Franklin Martins, esse oásis de independência no jornalismo brasileiro, porque um trambiqueiro qualquer - alguém que faz “ficção política” e nunca dá a fonte para poder inventar sem ser cobrado, que enfrenta processo pelo próprio sindicado dos jornalistas- lançou um blefe contra ele... Em terra de opinião, prova não é nada...

Isso todo mundo sabe, e eu acho que já comentei iso aqui... Mas ontem o Jornal da Globo subiu um ponto mais na "ocupação" da notícia pela política: Fidel Castro foi vítima de uma deprimente ridicularização, doente como estava. Enquanto sites na rede falavam de uma "melhora visível" e a Record mostrou as mesmas imagens com a expressão "um aspecto melhor", o Jornal começou falando em "o ditador" que fala "palavras incompreensíveis" e no final "não fica claro se fala" de sua saúde ou de Cuba quando promete que "não é uma luta perdida" (quando ficou bem claro para a Record; esse ponto também é irônico: os bispos são mais liberais?)... Além de sempre falarem em "câncer", razão apenas sugerida como hipótese...

Não somos obrigados a gostar de Fidel Castro, mas temos de lembrar que ele não é nenhum bobo. Ele é capaz de dizer, por exemplo, na entrevista que deu a Fernando Morais para a Veja em 1977: "Uma política conseqüente de direitos humanos teria de colocar em primeiro lugar o fim da corrida armamentista, o estabelecimento de um clima de paz no mundo, a resolução dos problemas de milhões e milhões de pessoas que vivem no subdesenvolvimento". (A arte da Entrevista, org. Altman)

E, sobre as questões de direitos humanos que levam os EUA a continuar com o bloqueio total a Cuba, condenado pelo Papa como imoral e pela ONU 26 vezes: "A cada mês ocorriam dezenas de desembarques clandestinos de armas (da CIA) em Cuba (mas) desde nossa luta nas montanhas contra a ditadura de Fulgêncio Batista inculcamos em nossos combatentes uma consciência de ódio a tortura". Em geral resisto ao tipo de comentário “a mídia quer derrubar o Lula”.

Mas depois dessa “campanha” pelo 2º turno, malas que duraram meses, dossiês de primeira página, “montanhas” vistas de baixo...Hoje, para melhorar, Lula diz no Jornal Nacional que "vamos ter de contratar mais professores, mais engenheiros, mais pessoas para cuidar o meio ambiente..." e a jornalista o introduz com "presidente fala em mais gastos". Ah, a gente não quer só política.
Vide verso: BBC Brasil “Com boa aparência, Fidel reaparece com Chávez”
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/01/070131_fid
tags: Porto Alegre

domingo, janeiro 28, 2007

O Fórum Social Mundial surgiu como uma assembléia de ativistas de diversas áreas que pensavam em dar visibibilidade a causas que consideravam negligenciadas nos debates do Fórum Econômico em Davos, dirigido por empresas e governos e em criar um espaço aberto de críticas, sugestões e trocas de idéias. As edições anteriores em Porto Alegre e Mumbai, na Índia, mereceram destaque na imprensa internacional, como no New York Times.

Este ano o Fórum reuniou mais de 1200 eventos, entre encontros e palestras, mas foi criticado pelo patriocínio privado e pelo alto custo da comida oferecida aos participantes, além de ter gerado um Fórum paralelo-o Fórum Social dos Pobres- daqueles que reclamam do valor da inscrição: o mesmo necessário para iniciar um pequeno negócio e sustentar uma família. Uma inovação foi a sistematização unindo grupos a fins para criação de propostas, dividida em 21 temas, trabalho, migrações, paz e guerra, habitação, mulheres e dívida.

Para Flávio Aguiar, da Agência Carta Maior " Os debates têm sido muito qualificados - esta é a informação que este colunista tem recebido e ele mesmo testemunhado na medida do possível. Mas há uma multiplicação de mesas completamente fechadas sobre si mesmas (...)"

O ator americano Danny Glover, da organização Transafrican Fórum, compareceu e afirmou: “Fico muito feliz ao ouvir todos estes depoimentos. Temos que ter espaço para contar nossas histórias, e para avaliar fracassos e vitória”.

***
Claro, o Fórum foi para nós, poas, uma novidade incrível! Egoistamente queríamos aqui todo ano...
Mas eu continuo achando que realizar o Fórum em um lugar definido pode ajudar na organização e no progresso do movimento... Quando foi para a Índia, milhares de grupos espalhados recomeçaram do zero... e nós ficamos a ver navios! Houve um aborto das ligações, dos mecanismos de criação...

Há, claro a vantagem de proporcionar aos ativistas locais parcipação (fundamental!) e de se mostrar aos europeus esses lugares, mas não sei.. talvez ter criar somente aqueles Fóruns continentais e prêmios para ativistas irem e virem! Quando leio um trecho como o de Flávio Aguiar, fico pensando se sistematização, como em Davos, não levaria as discussões adiante...


"As condições de trabalho no belo estádio de atletismo e futebol são muito precárias: a internet não funciona em boa parte do tempo, há notícias de furtos em todas as partes, mesas mudam de horário, é muito difícil tomar decisões diante dos imprevistos, porque a estrutura de funcionamento do Fórum é muito hierarquizada.

Uma pessoa que seja responsável por um setor num dado momento não se sente com autonomia suficiente para tomar uma decisão diante de um imprevisto - por exemplo, realizar-se uma entrevista numa sala onde há espaço mas não havia previsão dela, que foi o caso que aconteceu comigo, para entrevistar membros da Via Campesina africana."

http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/index.cfm?home_id=74&alterarHomeAtual=1
Ótimo Festival Brasileiro no Santander.

"Soy Cuba": um Mamute Siberiano é daqueles filmes em que se sai do cinema com um sorriso. É a história de algo que não funciona, mas você entende o por que e o como... E há o prazer de ver pessoas falando de algo que gostam, fazendo algo que gostam...
Não concordo de modo algum com a crítica feroz de Bernardo Barcellos no site Contracampo, que fala de "algumas histórias sem importância, aliadas a comentários extremamente pessoais" do diretor.

Um dos passos importantes do filme é mostrar um sonho, um ideal, sem ser claramente político: falar de liberdade fora do método empresas-globais e governos corporativistas. Mostrar que, como diz Noam Chomsky, o medo é ter alternativas...

As imagens de Mikheil Kalatozov, o diretor enviado pela URSS a Cuba para filmas sobre sua revolução, mostram-se na sua poética pura, e nós as adoramos. Somente no fim as vemos pelo olhar dos cubanos, um olhar marcado pelo orgulho da ação, da posição política, um olhar, portanto, longe do romantismo inspirado pelo cinema mudo (sempre grandeloqüênte), do catolicismo e da monarquia, cheias de símbolos eternos e simbólicos...

Uma grande esperteza do filme é isso, é um filme sobre percepções humanas. A percepção do criador sobre Cuba, tão diferente do inferno pobre que a mídia grande nos passa; a visão de um diretor do frio sobre um mundo anti-imperial que, querendo mostrar sua importância, a transmitiu num estilo europeu, velhusco, mas hoje, depois do cansaço das modernidades, captável em sua singularidade original; a visão dos criadores que se viram imersos em um fracasso e agora são reconhecidos mundialmente. Bendito o filme sobre percepções...


***
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Outro filme brilhante é "Cinema, Aspirinas@ e Urubus". Para ser sincero o filme foi tão comentado na época que eu perdi o tesão. Sabe, aquele tipo de filme cult que você tem de gostar para estar "inn". Nem o programa me seduziu, "vão pelo sertão vendendo remédio milagroso!" Que novidade!

Mas fiquei surpreso com a simplicidade do filme.
Claro, há uma ou duas cenas a mais, uns lances que mostram que é cinema... (Por exemplo, quando o emigrante conta sua aventura na cidade, fica meio novelinha...)
Já foi dito que os programas de hoje são sobre losers; a Tv americana passou a falar dos conflitos internos (!) em um mundo sem segurança... E nossa TV tão cheia de pessoas resolvidas! Aqui eles estão ótimos.

"Ô diabo de alemão que acha tudo interessante", diz o personagem nordestino a certo ponto.
O que é mais comovente é a atenção que um tem pelo outro, sem sexo, sem interesse... O respeito humano que nasce dali.
Gostaria de comentar principalmente a diferença deste para Árido Movie, também na mostra. Se este mostra todo o drama do sertão nas faces, no solo, nas plantas, o outro é didático e sua história não passa de um meio para um slogan pronto "como usam a água de forma política"!
Ou seja, a norma é sempre válida: arte é reflexão disfarçada!

ajr
Casa de Cultura fechando?

Acabou um patrocínio, o Unibanco rapou: a arte depende disso...O que se pode dizer do iminente colapso do Cinema da Casa de Cultura Mário Quintana?
Foi lá que muitas boas experiências eu tive, o local representa um oásis na loucura urbana, na avalanche de imagens globalizadas. Um espaço de fôlego, reflexão.

Todas as capitais do mundo têm sua pequena câmara de salvar da opressão, opressão da mesmisse e do medo do mundo contemporâneo. Sem isso, que seria a vida? Nossa vida de asfalteiros vivos? A criatividade é o que as cidades têm de bom, ainda.

Porto Alegre, sem mar, sem mata, sem São Paulo, tem na força dos criadores sua salvação. E, sem um diferente que entra entre outras coisas pelo pensamento em telas grandes, acabamos morrendo por dentro. É uma vergonha que nossos empresários, políticos, intelectuais, pensem tão pouco na necessidade de vida a ponto de deixar acontecer algo como isso...

É uma pequena tragédia para a cidade. 4 mil pessoas já pediram ajuda, mas o Estado está em cortes de orçamento... Quem sabe se alguém toma para si essa responsabilidade?

A CINEMATECA PAULO AMORIMESTÁ EM BUSCA DE APOIO.COLABORE, DIVULGANDO A TODOS!Desde janeiro de 1996, a Cinemateca Paulo Amorim contou com a parceria do Instituto Moreira Salles – Espaço Unibanco de Cinema. O patrocínio, infelizmente, chega ao fim em dezembro de 2006. Sem esse apoio, fundamental para a manutenção das suas três salas, a Cinemateca corre o risco de fechar suas portas. Abaixo, o comunicado.

A ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DA CINEMATECA PAULO AMORIM ESTÁ EM CAMPANHA PARA SALVAR OS CINEMAS DA CASA DE CULTURA MARIO QUINTANA. LIDERADA POR LUIZ PIGHINI, DIRETOR E PROGRAMADOR DAS SALAS, A INICIATIVA VEM BUSCANDO O APOIO DO GOVERNO, IMPRENSA, EMPRESÁRIOS E DO PÚBLICO.

AGRADECEMOS A TODOS PELAS MANIFESTAÇÕES DE SOLIDARIEDADE E PARTICIPAÇÃO NESSA CAMPANHA, EM ESPECIAL À RBS E À ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DO CENTRO DE PORTO ALEGRE.NA BILHETERIA DA SALA EDUARDO HIRTZ, UM ABAIXO-ASSINADO PEDE AO NOVO GOVERNO ESTADUAL QUE GARANTA O FUTURO DA CINEMATECA. PARTICIPE!

PRIMEIRA COLABORADORA

Assistindo ao Jornal do Almoço, DENISE ARGEMI, especialista em Direito Internacional Público e Privado, sensibilizou-se com as dificuldades da Cinemateca Paulo Amorim e resolveu ajudar.De dezembro a abril, vai colaborar com R$ 1.000,00 (mil reais mensais), do próprio bolso, na tentativa de salvar as salas. É insuficiente em relação ao que a Cinemateca precisa para se manter funcionando (R$ 15 mil por mês), mas um gesto significativo, sobretudo por se tratar de uma iniciativa individual e de um exemplo de solidariedade e preocupação com a cultura do Estado.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

ZAPPACIDADE:
MINI-HISTÓRIA EM QUADRINHOS DIGITAL.

grande loucura, montagem com fotos da web. leia de cima pra baixo, comece no próximo.
Publicação simultânea com Overmundo.
Grande, Amorins....

A BATALHA AMORIM X MIRIAM LEITÃO
http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/410501-411000/410659/410659_1.html

Paulo Henrique Amorim

Hoje, no Bom Dia Brasil, a propósito da reunião de presidentes do Mercosul, ela preferiu fazer uma longa exposição sobre o fracasso do Mercosul e a vitória retumbante da “Alca do B”, conduzida com talento e pertinácia por este grande estadista, George W. Bush.
. Em seguida, entrou o coadjuvante. O chanceler brasileiro Celso Amorim.

. Amorim mostrou, com elegância, que Leitão tinha acabado de oferecer ao espectador um conjunto de bobagens.

. Por exemplo, o fato de a Argentina recorrer à OMC para reclamar do Brasil não significa que o Mercosul seja insignificante. Mas, sim, que se trata de expediente usual, inaugurado, aliás, pelo Farol de Alexandria, que iluminou Miriam Leitão: o Presidente Fernando Henrique Cardoso.
. A relação do Brasil com a Venezuela não é um desastre, Miriam. Dos US$ 3 bilhões do fluxo comercial, US$ 2,5 bilhões são de exportações brasileiras!

. Quantos trabalhadores brasileiros sustentam a famílias com o trabalho que realizam na Venezuela? - hein, Miriam?

. Ou seja, não estivesse ali o Ministro das Relações Exteriores, e o espectador de uma tevê aberta, concessionária de um serviço público teria sido submetido a informações erradas – revestidas da “proficiência” de uma colunista “especializada”.

CONVERSA AFIADA- IG

Coli e Bishop: além da aparente contradição


No caderno Mais! de 14 de janeiro de 2007, Jorge Coli fala sobre uma entrevista de Claire Bishop, crítica e professora inglesa, sobre a Bienal, em dezembro. Ela havia levantado o tema da curadoria do alemão Alfons Hug: "minha sensação (...) é que o Brasil teve duas exposições conservadoras”.

O crítico rebate: “Conservador' torna-se não um conceito analítico ou classificatório, mas insulto supremo”.
Entretanto parece-me que a professora se referia à preponderância de expressões artísticas “clássicas”, ou, como explica, “pinturas, fotografias de grandes dimensões e esculturas objetuais”.
Coli e Bishop têm mais em comum do que admitiriam. Ambos falam do abandono da dimensão artística, em função do artístico-marketeiro-político. O autoritarismo que coloca como critério de arte o poder do dinheiro, curadoria ou patrocinador.

Bishop argumenta que vem criticando trabalhos que “(...) em nome do engajamento político direto- não enfrentam a questão de sua própria representação para outros públicos”. Coli fala de um autoritarismo modernista institucionalizado: “Servem-se de pressupostos indiscutidos. Valem-se das convicções próprias a um grupo que compartilha das mesmas idéias. Basta, nesse caso, a opinião por ouvir dizer.”

O que é mais criticável na arte contemporânea é sua intelectualização (nos temas) e sua banalização (na realização, na recepção). Arte como entretenimento, discurso, abandono.
A vanguarda do tédio aponta para o pior mal que a arte pode sofrer: desinteresse.

Porque também olhamos para arte pare perceber a presença de alguém, um julgamento sobre o mundo, que torna mais complexo nosso próprio parecer. Mas se tudo se torna um mar de "bons sentimentos", significa que tudo se tornou um bloco único de crítica deslocada do particular, desfocada, ou, pior, que a avalanche de informações destruiu nossa visão compreensiva do mundo.
Nosso mundo feito de gavetas isolou artistas e críticos fisicamente, enquanto percepção de tons e semi-tons cotidianos, das tragédias mais fortes do mundo (favelas, danos ecológicos, corporações...) e lhes deixou apenas com filosofia e textos, que substituem e recriam o mundo. A realidade foi recalcada. Volta como imagem simplificada e global. A arte é reflexo disso, apenas.

A arte representa, claro, uma reflexão e um ponto de vista sobre o mundo, que se apresenta de forma mais ou menos clara e dirigida (uma defesa da moral aristocrática na Grécia Clássica, uma defesa da Igreja militante na Contra-reforma barroca, um impulso de reforma dos valores burgueses do dinheiro e da religião, no modernismo).

O que ocorre algumas vezes é que o tema se sobrepõe ao efeito, e isso submerge a arte ao moral, ao lúdico ou ao falso político.
A atual proliferação, quando funciona ou não, é retomada do conceito do mundo como tema. Justamente o modernismo propôs um olhar autônomo para a arte, a preocupação plástica como suprema reflexão, depois do exagero, no contexto europeu, do projeto político Iluminista-Napoleônico do Neoclasicismo, do político-libertário do Romantismo ou de uma arte realista de denúncia da miséria.

O que banaliza é perda de referência nos meios propriamente plásticos, a invasão dos conceitos em camadas de realidade diversos: a política deve ser feita em opiniões públicas e em atos de urna e manifestação; a crítica em letras, a ciência no laboratório. Isso não breca o inevitável contágio das áreas na era da informação, mas faz pensar sobre o autoritarismo do "político" em âmbitos autônomos- todos os chineses em tûnicas azuis, como Mao Tsé-Tung.

O medo difuso de um mundo dominado cada vez mais por grupos anti-democráticos (religiões, impérios, crime organizado, hiper-corporações e indústrias globais de mídia) e o medo sem rosto da insegurança total de um Estado-mínimo, a invasão da indústria do entretenimento- que utiliza os efeitos estéticos com projeto de induzir a um modo de vida e ao consumo- a inércia da crítica modernista à tradição, a falta de um conceito ético que se oponha e debata um capitalismo que dominou os desejos, tudo isso nos leva a uma arte mais conservadora e também mais “revolucionária”, para nada.

Mas toda a arte acaba sendo "lixo" vanguardista? Não, obviamente.
Quando idéia e plástica conseguem transmitir algo sem impor, o cotidiano, a solidão, os problemas urbanos, ambientais, de minorias, podem se tornar arte utilizando novos meios e tecnologias. É o drama de Tolstoi (mas que já se faz presente no debate Voltaire X Diderot): a arte deve ensinar, ou representa nossas crises ocultas, nossa incompreensão, nossa fragilidade?
Como o imaginário foi dominado pelos desejos corporativos e uma política conservadora, um simples re-arranjo de imagens pode significar, às vezes, criação, e, portanto, reflexão.

Como coloca Coli:

“O álibi das intenções éticas e intelectuais não consegue substituir o interesse da criação(...)”
O impacto da multiplicidade de imagens, sem necessariamente um contexto ou narrativa que os ligue, reflete-se na arte como descritivismo sem nexo, abundância nula. Um vago "bom mocismo" une toda a filosofia -distante do ativismo real das escolhas políticas ou do trabalho nas comunidades- mas que se contenta com um "discurso" de abertura ao novo, ao outro.

A postura de Tony Blair, de criticar o racismo presente no Big Brother inlglês, ao invés de discutir o racismo presente na sociedade inglesa, faz um triste espelho da arte vã como substituição do político. O mundo pode explodir, porque a imagem o substituiu.

Afonso Junior Ferreira de Lima

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Bem, vamos falar de BBB...

(A força de penetração da mídia acaba colocando o tema em pauta, em jornais e web até... mas, o que adiou tanto esse post em esperança vã, parece que nada vale a pena ser comentado, um tédio só!)
O que ficou claro nessa edição, além de, como diz Carina Martins "os bonzinhos acabaram", é que é sexo! O que existe é só sexo!

(O Jean Pierre se salvou até agora falando um pernambuquês imcompreensível e usando seus óculos absurdos. Mas é vivo, parece de verdade, num museu de cera. )

Tudo bem que, na verdade, bundas e músculos sempre estiveram lá... Mas a Globo optou agora por apelar - bem, mais que isso, declarar- mesmo... Legal, agora vamos ver TV para substituir a Playboy.

O que podia até ser uma opção de exercitar nossa angústia humana por comportamentos e relações humanas, tornou-se apenas um bando de garanhões dizendo coisas como "quero esse bombom pra mim" ou espetando garfo na bunda de mocinhas semi-desnudas-tímidas. Olhando um pouco mais para tentar entender o banal múltiplo, percebo muitas variações: "fazer sexo aqui dentro é natural..." (Seleção: quem sabe menos palavras?)

Claro, o excesso de edição transformou o caso em bonzinhos e mauzinhos, as pessoas extavam todas boazinhas e nada aconteceu -Bial foi o personagem do último- agora eles nos prometem emoção... Mas coo se todos são iguais???? E tão diferentes do Brasil... É o BB Suiça!
Imagine um Big Brother com Fernanda Montenegro, MV Bil, Lenine e Lino Linaventura....
Respeitem a inteligência sapiens sapiens!

***
Pena, de morte...

A Execução de Sadam pareceu tanto com uma vingança tribal...
Mate o cara: temos que justificar essa guerra...

***

AiInda dela, minha musa. Carina Martins - do Blig Zapeatrix- merece um post só dela pois sabe que estamos há mil anos luz da escola de Frankfurdt, pis nacemos dentro do mundo do entretenimento e mesmo assim, queremos qualidade mínima!
A TV pode ser um meio, e apenas isso! Carina é a mais viva, crítica e livre jornalista que eu vejo faz tempo...

terça-feira, janeiro 09, 2007

falou e disse Mitch... (tô antigo?)

No site InformationWeek, sobre notícias de economia e tecnologia, o colunista Mitch Wagner critica o casal por protagonizar a cena picante em público e depois tentar bloquear as imagens na Justiça.
"Se você não quer que multidões vejam você fazendo sexo, por que você faria isso na praia com outras pessoas por perto?", escreve Mitch.

"Plataformas abertas - como YouTube, MySpace, Blogger e Facebook - oferecem muitas oportunidades de se expressar livremente, conectar com pessoas, criar arte e promover discussões políticas, e não devem ser ameaçados por censura - especialmente para proteger os direitos de uma modelo boba que deveria ter mais noção - ainda mais porque o vídeo já está em toda a Internet."

bbc-co.uk

sexta-feira, janeiro 05, 2007


Tiro?

"O ministro da Defesa, Waldir Pires, anunciou, nesta sexta-feira, que as Forças Armadas já colocaram à disposição do governo do Rio de Janeiro cinco mil soldados para conter a onda de violência no Estado".

http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2007/01/05/

***

Lembrando o excelente texto de Luke Dowdney citado anteriormente:
http://www.redeamiga.org.br/legislacao/docs/criancas_do_trafico.pdf


"
-A polícia vem dando tiro à tarde, que é horário que criança tá
descendo pro colégio...
Morador de favela

-Nosso medo é só esse, a polícia chegar [...] porque a comunidade sabe
quem é morador e quem não é, mas o policial não conhece.
Morador de favela

-... se vier um policial ali, o próprio morador que não é envolvido,
não trafica, trabalha, tem sua família, é de bem, pode avisar, ‘ó, tá
vindo a polícia aí’.
Morador da favela

Mesmo jovens traficantes entrevistados comentaram o tratamento
violento a moradores não envolvidos, pela polícia.

-A polícia esculacha a comunidade, eles esculacham nós que é pobre."
Gerente de maconha, 22 anos

-A polícia arromba casa, rouba casa, esculacha morador, a comunidade
não quer isso
Vapor, 18 anos

Além da violência policial na comunidade, a mentalidade
policial de "culpado até provar inocência" e de atirar primeiro
significa que a morte de moradores inocentes pela polícia é uma
ocorrência comum. Os seguintes relatos na imprensa foram
publicados durante esta pesquisa, e este tipo de notícia é
freqüente na mídia brasileira.

-São umas incursões meio doidas que a polícia faz, que ninguém está
esperando e bota a população em risco. Por isso de vez em quando tem
uma bala perdida que matou não sei quem. Só morre inocente quando a
polícia sobe na favela.
Morador da favela´

-...os PM46 já matou morador inocente. No morro uma criancinha de 3 anos
morreu [...] Os policiais entram no morro atirando. Não quer saber de
morador. Não quer saber de nada.
Vapor, 17 anos "
Ganhou, mas não levou...

Alertou o Rs urgente. Chega a ser cômico... A Revista Time fez a pesquisa na Internet para saber quem foi a personalidade do ano. Ganhou Chavez. A capa traz: "você", o usuário da internet... Democracia é bom, mas...

Resultado no site:

36% Hugo Chavez
21% Mahmoud Ahmadinejad
11% Nancy Pelosi
11% The YouTube Guys
8% George W. Bush
7% Al Gore
5% Condoleezza Rice
2% Kim Jong Il

http://www.time.com/time/personoftheyear/2006/walkup/
Favelas, sempre

"Mas, se o governo do estado cumprisse o contrato social com as populações faveladas e tivesse uma presença importante nas comunidades faveladas por meio de investimentos na infra-estruturalocal, em medidas de segu rança pública que focalizasse a presença de uma polícia comunitária honesta e não-repressora, em estímulos à economia local e proporcionasse empregos e serviços públicos, os traficantes não conseguiriam manter o controle e a dominação da comunidade nos níveis acima descritos."

Luke Dowdney
CRIANÇAS DO TRÁFICO
http://www.redeamiga.org.br/legislacao/docs/criancas_do_trafico.pdf

***

Presídios, urgente

Lembrando o "queremos um sistema carcerário com condições humanas, não um sistema falido, desumano, no qual sofremos inúmeras humilhações e espancamentos... o sistema carcerário, sem assistência médica, sem assistência jurídica, sem trabalho, sem escola, enfim, sem nada", que o PCC divulgou na Globo (o momento em que um Estado ausente parece levar uma lição moral de um grupo armado) , valhe a pena lembrar que ainda tem gente querendo livrar-se desse "custo"...
Diz EDUARDO ARAÚJO NETO, do MP:

"Apesar de ser bastante recente (cerca de 1 ano) a experiência da participação privada na administração de presídios no Estado do Ceará, tem-se notícia de ocorrência dos mesmos e sérios problemas que afligem o sistema carcerário tradicional.

Em carta, segundo noticiou o Jornal O Povo [14] , "os presos denunciam torturas, espancamentos, ameaças de morte, quebra de privacidade nos dias de visita e violação de suas correspondências."

'Muitos dos estabelecimentos penais geridos pela iniciativa privada converteram-se em depósitos de detentos, reproduzindo em maior escala os conhecidos problemas de agressões a presos, tráfico de drogas e falta de higiene e levando até os próprios porta-vozes do liberalismo globalizado, como a insuspeita revista The Economist a perguntar se não valeria a pena reestatizá-los."


ASPECTOS SOBRE A PRIVATIZAÇÃO DOS PRESÍDIOS NO BRASIL
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA

http://www.pgj.ce.gov.br/artigos/print.asp?iCodigo=76

PS:
Pois é, se não morre de fome...

".. muitos estudiosos do Direito brasileiro consideram inconstitucional o RDD. (...) A verdade é que danos psicológicos irreversíveis podem decorrer do isolamento do detento por tempo tão longo (360 dias podendo ser prorrogado por mais 360).

http://pt.wikipedia.org/wiki/Regime_Diferencial_Disciplinado

***

Falando nisso...

É impressionante o tom de verdade da novela Vidas Opostas...
Um senhor negro morador da favela aparece como pai de família, trabalhador, fora do grupo dos traficantes.
Tão diferente do "filho adotivo" da Regina Duarte, assim como de sua empregada, que ficam falando coisas óbvias e desnecessárias numa novela onde todos que têm emoção são brancos...
deplorável...